Os serviços de tecnologia da informação puxam o movimento, na frente das telecomunicações, segundo Rodolpho Tobler, responsável pela Sondagem de Serviços da FGV. Desde outubro do ano passado, há mais empresários prevendo novas contratações do que demissões nesse subsetor. “Esse segmento é o que está com a confiança mais alta no setor de serviços e tem dado uma sinalização de que ainda pode melhorar nos próximos meses”, diz Tobler.
Para especialistas e executivos, a pandemia acelerou um movimento que já vinha de antes. Nas duas primeiras décadas do século, as big techs – como Google, Facebook, Microsoft e Apple – atropelaram conglomerados tradicionais – como as petroleiras Exxon e Shell e a rede de supermercados Walmart – nos rankings de companhias mais valiosas do mundo, marcando a ascensão do setor de tecnologia na economia.
Segundo Sérgio Gallindo, presidente da Brasscom, embora ninguém tenha “nada o que festejar com a pandemia”, a crise teve efeitos “em linha com a era digital”, como o incentivo ao trabalho remoto, que favoreceu ferramentas de comunicação já disponíveis. Se a covid-19 tivesse atingido o mundo há cinco anos, talvez “as redes de celular não estariam capacitadas” para permitir essas mudanças, diz Gallindo. Com a combinação de nova cultura corporativa e condições tecnológicas adequadas, parte das mudanças tende a ser permanente.
“As empresas que atuam nesse segmento acabam se beneficiando do surgimento de novos negócios, notadamente a parte de fornecimento de aplicativos de videoconferência e armazenamento de dados em nuvem”, diz Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE.
Reuniões online
Antes da pandemia, em dezembro de 2019, as reuniões online da plataforma de videoconferências Zoom tinham 10 milhões de participantes por dia. Em abril de 2020, o número saltou para 300 milhões. No Brasil, o número de usuários gratuitos cresceu 31 vezes, segundo Alfredo Sestini, chefe do Zoom para a América Latina. “Pelo que converso com outras empresas e executivos, é uma mudança cultural com a pandemia. A forma de trabalhar, de pensar, de viver será diferente.”
Também cresceu a demanda por softwares de gestão, ferramentas de segurança cibernética e marketing digital, além de aplicativos e sistemas para o comércio eletrônico. Tradicional no desenvolvimento de sistemas de gestão para o varejo, a Totvs já vinha se preparando para oferecer mais serviços a seus clientes antes da pandemia.
Quando a crise se instalou, viu crescer a demanda de empresas por digitalização de suas operações, diz o presidente da empresa, Dennis Herszkowicz. No segundo trimestre, a receita líquida foi de R$ 763 milhões, 22% acima de igual período de 2020. No primeiro semestre, a companhia, que tem em torno de 10 mil funcionários, contratou 300 profissionais, para dar conta do crescimento. A Locaweb também correu para diversificar os serviços oferecidos para além da hospedagem de sites na internet, de olho na demanda de pequenos e médios varejistas que foram impelidos a apostar no comércio eletrônico. Segundo o presidente da empresa, Fernando Cirne, o objetivo é oferecer soluções para permitir ao cliente criar toda a estrutura de comércio eletrônico em poucos dias. O executivo acredita que a demanda seguirá em alta – mesmo após contratar 425 funcionários em 2020, e outros 494 este ano, a Locaweb tem 246 vagas em aberto, informa a empresa.
“A penetração do comércio eletrônico no Brasil era de 8%, muito baixo em relação aos EUA e a China”, diz Cirne, acrescentando que a corrida para o segmento evitou a falência de muitos negócios.
Fonte: Estadão
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,na-contramao-da-economia-setor-de-ti-cresce-na-crise,70003831804