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Enquanto as empresas têm promovido melhores condições de contratação, o setor público ainda não oferece nem plano de carreira
Talita Laurino

Enquanto mais de 14 milhões de brasileiros estão desempregados no Brasil, diante da crise promovida pela pandemia da Covid-19, sobram vagas para profissionais de Tecnologia da Informação (TI) no serviço público. A evasão desses especialistas já chega a cerca de 60%, de acordo com a Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação (Anati), que alerta para o “colapso” do sistema nos próximos anos.
Segundo a instituição, a cultura do “estado mínimo”, defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tem reduzido cada vez mais a contratação de pessoal, o que aumenta “significativamente” a demanda dos poucos profissionais em atuação. O excesso de trabalho e a baixa remuneração tornam a iniciativa privada mais atrativa.
“Até quando vamos perder excelentes Analistas em Tecnologia de Informação?” questiona o presidente da Anati, Thiago de Aquino Lima. “A saída desses profissionais reflete um total descaso do Governo Guedes, que se recusa em investir em profissionais qualificados de TI e a ouvir propostas que garantem a qualificação do serviço digital. Estamos à beira de um colapso”, afirma.
Atualmente, há 450 analistas de TI espalhados em todos os ministérios e em mais de 150 órgãos federais, o que associações alegam ser pouco. Além do gerenciamento em soluções tecnológicas, os profissionais também são responsáveis pela transformação digital do governo. A falta de mão de obra no setor desacelera o desenvolvimento econômico do país.
Confira alguns dos serviços entregues à população que têm participação direta do serviço de T.I:
a) Soluções tecnológicos para o pagamento do auxílio emergencial, que ajudou famílias de baixa renda a se estabilizarem durante a pandemia;
b) Planejamento e viabilização dos recursos para o trabalho em home office na Esplanada;
c) Certificado internacional de vacinas, carteira de trabalho digital, Meu INSS, entre outros.
Governo Vs Empresas
Embora o governo esteja perdendo profissionais para a iniciativa privada, as empresas também enfrentam dificuldades para contratar mão de obra qualificada.
Em entrevista à Bússola, o presidente executivo da Brasscom, Sergio Paulo Gallindo, revelou que a demanda aumentou durante a pandemia e que as empresas vêm buscando gente em áreas diferenciadas, como matemática, por exemplo. Neste ano, a expectativa é de que 56 mil novos postos de trabalho sejam criados.
Enquanto as empresas se esforçam para tornar o ambiente cada vez mais convidativo, o setor público ainda não oferece nem plano de carreira.
“Não existe uma estrutura da carreira, não possuímos um plano, uma política de remuneração compatível com o mercado e não possuímos uma política de qualificação”, afirmou ao Metrópoles uma fonte que preferiu não se identificar.
De acordo com um estudo encomendado pela Anati, o executivo federal paga entre 24% a 170% a menos que a iniciativa privada. O reflexo disso se dá nos 389 cargos vagos e sem previsão de ocupação. “Não há concurso previsto para preenchimento das cadeiras”, diz a associação.
As fragilidades na área de TI do governo Federal já foram identificadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Eletrônico (OCDE), por meio da publicação de três acórdãos e de um estudo sobre a carência na transformação do setor digital brasileiro.
O que diz o governo
Questionado sobre o investimento em Tecnologia da Informação nos últimos anos, a Secretaria de Governo Digital informou ao Metrópoles que gastou R$ 5,3 bilhões na área em 2021, até setembro. Em 2020, foram R$ 8,2 bilhões e em 2019, o valor foi de R$ 8,1 bilhões.
Segundo o governo, as despesas destinam-se à aquisição ou locação de equipamentos e programas, à hospedagem e manutenção de sistemas, à contratação de serviços técnicos especializados em tecnologia da informação, e capacitação de servidores voltados para essa finalidade.
Na avaliação de especialistas, entretanto, o dinheiro é mau investido. “Quando falamos que o governo não investe, não estamos falando a respeito de equipamentos. Estamos falando que não investe em estratégias que permitam um investimento inteligente a partir de pessoas qualificadas”, explicou o presidente da Anati.
“Boa parte desse dinheiro nem deveria ter sido gasto. Além disso, não se trata de investimento, se trata do custo operacional da máquina pública. Perto de 90% desse valor é só para manter o sistema funcionando. Para melhorar continuamente, evoluir e inovar é outro assunto…”, acrescentou.
Confira as despesas do governo em cada um dos ministérios:

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