Especialistas advertiram que investir em desenvolvimento de tecnologias da informação no
mundo atual é uma questão econômica e também de soberania nacional

Brasília, quarta-feira, 15 de julho de 2015 – Para decidir soberanamente sobre seus caminhos e atingir pleno desenvolvimento, um país precisa dispor de tecnologias básicas que não sejam dependentes de decisões tomadas por governos ou entidades no exterior.
O alerta foi dado ontem por especialistas em audiência pública da Comissão de Ci- ência e Tecnologia (CCT) que expôs os obstáculos que o Brasil precisa superar para avançar no desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação (TICs).

— A pergunta é aonde vamos parar trocando o importante patrimônio que tem o país, que é o setor primário, mas tendo que pagar uma conta que já não é mais possível pagar. Não é por nada que nossa balança comercial sofre o problema de hoje — salientou Gerbase.
Ao sugerir caminhos para a superação da situação de atraso tecnológico, os convidados falaram de modo recorrente em elevação de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, desoneração da cadeia produtiva de equipamentos e de bens com tecnologia embutida, mais esforços no campo da educação e capacitação de mão de obra e políticas para ampliar a competitividade internacional das empresas que agregam valor a seus produtos.
— O desafio é fazer com que nosso povo e nossos governantes entendam esta diferença: não somos mais o país de produzir apenas com a força bruta dos músculos; a saída é usar nossos cérebros. Do contrário, seremos entendidos por outras nações apenas pelo potencial de nosso mercado consumidor — reforçou Gerbase.
O executivo Sergio Pauperio Serio Filho, da empresa de software de gestão Totvs, apontou a necessidade de intensificar a cooperação entre universidades, institutos de ciência e pesquisa e o setor privado. Também defendeu o aprimoramento dos incentivos para as start-ups, as nascentes empresas de tecnologia, assim como quebrar o tabu existente no país em relação a investimentos nesse tipo de negócio.
— O desafio é importar a cultura dos mercados americano e europeu, para os quais é aceitável que nove em cada dez start-ups não deem certo, mas a única que vingar compensa as outras — argumentou.
Infraestrutura
O presidente da Brasscom, Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, Sergio Paulo Gallindo, destacou que o segmento possui elevado potencial de crescimento. Segundo ele, o conjunto das empresas responde por 9% do PIB e emprega mais de 1,5 milhão de trabalhadores. Em 2014, o setor cresceu 7,7%, quando a economia nacional não passou de 0,1%.
— Por isso, costumo dizer que somos uma China dentro do Brasil, bem acima da média geral — disse, comparando com o país que mais cresce no mundo.
Gallindo cobrou investimentos em infraestrutura de banda larga, para permitir que toda a população tenha acesso aos serviços, pediu incentivos tributários para investimentos em data centers, que processam e armazenam dados.
Ele também apelou para que, na discussão atual sobre o fim da desoneração de tributos incidentes sobre a folha salarial da empresas, devido ao ajuste nas contas públicas, o setor não retorne à alíquota anterior de 4,5% — que havia sido rebaixada para 2,2%. Segundo ele, com o incentivo o setor formalizou mais de 80 mil empregos, que agora podem ser perdidos.
O secretário de Políticas de Informática do Ministé- rio da Ciência e Tecnologia, Virgilio Augusto Almeida, reconheceu que as tecnologias digitais são elementos-chave da agenda global nos campos social, econômico e mesmo político, como demonstram os episódios de espionagem internacional que vieram a público recentemente.
Ele lembrou uma pesquisa internacional que classificou países de acordo com a capacidade tecnológica. O Brasil está no grupo com chances de avançar, ao lado do México, Chile, Turquia e Tailândia. Depois de admitir que o Brasil precisa agir rápido, ele listou aspectos que favorecem o país e o que precisa ser feito, como a massificação do acesso à rede de banda larga.
Já Sergio Cavalcante, do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, reforçou a importância de melhorar a qualidade da educação. Diretor do centro, uma empresa de inovação e de formação profissional em TI, ele criticou o modelo em que as escolas se limitam a ofertar apostilas a alunos que não conhecem “o caminho para a biblioteca”
— Como a gente consegue criar pessoas com capacidade analítica se não sabem comparar diferentes fontes de informação? — questionou.
A audiência foi realizada por sugestão do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e presidida pelo senador Hélio José (PSD-DF).
Fonte: www.senado.leg.br/jornal
Link: http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2015/07/15/jornal.pdf
Página: 09
Jornal do Senado Federal

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