Por: Gustavo Paul
03/02/2020

Mais de 300 mil empregos devem ser gerados até 2024, mas o país não forma pessoal suficiente para atender a demanda

O governo quer apressar a licitação das novas frequências para instalação no Brasil da tecnologia 5G da telefonia celular. A meta é tentar realizar ainda em 2020 o leilão para as operadoras, permitindo que a tecnologia esteja disponível aos brasileiros em um par de anos.

Mais do que simplesmente um avanço técnico, o 5G é considerado a nova revolução mundial no campo das telecomunicações. Expressivamente mais rápida, essa tecnologia aumentará a competitividade e produtividade, permitindo novos negócios e usos para a internet em casas, empresas e veículos conectados.

Mas o que poderia ser um processo relativamente simples de concessão pública está cercado de desafios. Um deles é a disputa entre americanos e chineses em torno do fornecimento da tecnologia. É uma briga global.

Apenas no Brasil, o governo brasileiro estima que ocorrerão investimentos diretos de até R$ 10 bilhões até 2025, com a geração potencial de 200 mil postos de trabalho. E, é justamente a formação de pessoal qualificado uma das principais preocupações do Ministério das Comunicações, Ciência e Tecnologia.

“Falta mão de obra no Brasil. Na área de Tecnologia da Informação (TI) temos vagas abertas que não conseguem ser preenchidas”, alerta um integrante do primeiro escalão do governo.

O país, que terminou 2019 com 11,6 milhões de pessoas procurando emprego, deverá ter, entre 2020 e 2024, 300 mil novas vagas na área de TI, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom).

A demanda deve ser ainda maior. Esses números são voltados apenas para programadores de software e sistemas, e não incluem a demanda que virá com o 5G.

“Os números que divulgados são uma parte da pizza. O quadro da falta de mão de obra nesse setor é ainda mais preocupante. Vamos fazer este ano um levantamento das demandas de mão de obra para a telefonia móvel”, diz o presidente da Brasscom, Sérgio Paulo Gallindo.

A área de tecnologia muda em alta velocidade e a demanda por profissionais atualizados é desafiadora. Com o 5G vem aí também a inteligência artificial e a internet das coisas.

“A mudança é o novo normal e em 3 a 5 anos tudo será diferente”, adverte Gallindo. “Há vagas para desenvolvedores de software, suporte técnico, infraestrutura, analista de sistemas, entre muitos outros”.

Apenas 46 mil pessoas se formam anualmente em universidades para este mercado. “Se não fizermos o dever de casa, boa parte dos profissionais que o país vai precisar poderão ser gerados no exterior”, lembra o presidente da entidade.

Serão necessários especialistas em redes de alta complexidade, para trocar equipamentos e desenvolver tecnologias. Num primeiro momento, as operadoras de telefonia poderão requalificar seus técnicos, mas quando a tecnologia ganhar escala a demanda por pessoal será um gargalo.

A solução passa pela ação das empresas junto escolas privadas e públicas e uma avaliação sobre como aumentar o interesse pela área. A Brasscom está conversando com governos estaduais e com instituições de ensino federais. Além de bacharéis, o país precisa de tecnólogos. Uma das propostas é aumentar as vagas não só em universidades, mas também no ensino médio e a concessão de bolsas de estudos.

A formação de profissionais técnicos leva pelo menos dois anos. O tempo é curto.

Gustavo Paul é coordenador de Economia da sucursal de O GLOBO em Brasília. Trabalhou nas redações de O Estado de MinasVejaO Estado de S. Paulo Exame. Também foi assessor de imprensa do Banco Central e do BNDES.