Com orçamentos sob pressão, os gestores das áreas de tecnologia da informação (TI) terão de ser criativos e ousados para garantir base tecnológica às estratégias corporativas. A crise econômica acelerou a busca por maior eficiência, inovação em produtos e serviços e redução de custos. Soma-se a esse tripé, a digitalização corrente dos negócios – cujo movimento não pode ser interrompido – e o surgimento de soluções que estão transformando a forma como a empresa se relaciona com consumidores, parceiros e governos. “É a tempestade perfeita para o segmento de computação em nuvem”, destaca Shawn Price, vice-presidente sênior para a área de computação em nuvem da Oracle.
Segundo ele, o Brasil passa por um momento de transformação, que exige maior competitividade e criatividade. Estar à frente da concorrência demanda mais inteligência, traduzida no mundo do bits e bytes por maior capacidade computacional para analisar dados, conectar negócios, interagir com consumidores e, principalmente, agilidade para lançar produtos e serviços no mercado. “Ao adotar a computação em nuvem, as empresas economizam pelo menos 30% nos orçamentos de TI”, diz Price.
No Brasil, prevê o instituto de pesquisa Frost & Sullivan, o mercado de computação em nuvem deve avançar à velocidade de dois dígitos nos próximos anos. Segundo o instituto, o segmento somou receita de US$ 474,8 milhões no ano passado. Em 2017, o volume de negócios deve chegar a US$ 1,11 bilhão. A redução de custos é a principal razão para a adoção da tecnologia, seguida pelo suporte à inovação e a flexibilidade para explorar novas oportunidades no mercado. “Estamos diante de uma nova era para os negócios e não há como prever as necessidades computacionais das empresas em curto prazo. A nuvem tem capacidade para adequar a oferta à demanda”, afirma Price.
A computação em nuvem, explica Ricardo Chisman, líder de tecnologia da Accenture, é um novo modelo de entrega de tecnologia da informação – baseado na terceirização e no compartilhamento de infraestrutura e sistemas. “Companhias de todos os portes podem ter acesso a soluções de ponta sem investir na base tecnológica”. A ideia é que paguem pelos recursos utilizados como é feito com energia elétrica e telecomunicações. Trata-se de transformar toda a parafernália técnica em serviços. “A empresa pode contratar mais recursos computacionais durante um período e ‘devolvê-los’ para o provedor quando não precisar mais deles”, exemplifica Chisman.
Além de ser elástico, o modelo de contratação reduz os custos com gestão tecnológica, infraestrutura de refrigeração, contratação de pessoal qualificado e energia elétrica. “A agilidade para colocar sistemas em operação na nuvem amplia a capacidade de inovação dos negócios, um ganho indireto que não dá para ser medido”, destaca Chisman.
A crise econômica acelera o apetite das empresas para adotar a nuvem. Os pequenos negócios não encontram outra forma de digitalização, automação e organização – o compartilhamento é a única maneira de eles terem acesso à TI. As novatas (ou startups) nascem dentro dos centros de dados e na nuvem. Sem essa estrutura, não teriam condições de entrar no mercado e inserir novos e criativos modelos de negócios. Os dispositivos móveis provavelmente estariam vazios de aplicativos e o alcance das redes sociais seria reduzido.
Já as grandes empresas enfrentam a obsolescência cada vez mais rápida dos equipamentos e sistemas. A desvalorização do real frente ao dólar e o aumento nas taxas de juros funcionam como freio para os projetos de investimento e atualização dos recursos próprios. Em uma operação de TI, grande parte dos ativos (computadores, sistemas de refrigeração e softwares) é importada. “Com o alto custo de capital, a tendência é migrar para modelos de terceirização que permitam contabilizar a tecnologia como despesa”, afirma David Gonzales, diretor geral da Intel Brasil.
O faturamento global da Intel reflete a tendência de migração para a nuvem. Segundo Gonzales, desde o ano passado, a área mais rentável é a divisão de centro de dados. “Em todo o mundo, a computação em nuvem cresce mais de 40% ao ano. As empresas vão comprar TI de outra forma e o Brasil acompanha o movimento.” Entre as novas fronteiras tecnológicas que prometem alimentar a nuvem estão a internet das coisas – comunicação inteligente e irrestrita entre máquinas, sistemas e pessoas – e soluções complexas de análise de dados e negócios.
Segundo Sérgio Paulo Gallindo, presidente da Brasscom – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação -, o mercado brasileiro demorou a aderir à nuvem porque estava estocado em capacidade computacional. “Há três anos, assistimos a uma onda de compra de equipamentos e serviços proprietários em centros de dados. Não dava para dizer aos acionistas: gastamos esse dinheiro e agora vamos para a nuvem.”
Outro fator de preocupação é a segurança das informações – principalmente na nuvem pública, onde a gestão dos recursos tecnológicos fica nas mãos dos provedores de serviço. “As soluções evoluíram muito e foram se adequando à estrutura da nuvem. Os executivos estão mais confiantes”, comenta Gallindo. Ele acredita, no entanto, que a migração será gradual nas empresas de maior porte. “Elas já estão testando a solução em aplicações que não são críticas para o negócio.”
Até agora o modelo de nuvem híbrida – que combina computação em nuvem privada (com recursos computacionais dedicados e geridos pelas companhias) com a nuvem pública (onde o compartilhamento total comanda o serviço) – é o mais utilizado no Brasil.
Antonio Carlos Pina, diretor de tecnologia da Mandic, lembra que os gestores de TI também estão se adaptando à forma de contratação e de cobrança em nuvem. “Existe uma preocupação em entender como controlar o consumo para não estourar o orçamento”, diz. Em empresas acostumadas com a terceirização, a opção está em assinar contratos claros, com níveis de serviço estabelecidos e uma certa previsibilidade no desembolso.
Segundo Pina, a alta do dólar e a burocracia para calcular e recolher os impostos quando o serviço é prestado fora do país inibem a importação de computação em nuvem. “Negociar e estabelecer os limites orçamentários com brasileiros é mais fácil. Evita surpresas”, afirma. A flexibilidade para negociar permite a criação de modelos de entrega sob medida, como o estabelecimento de mensalidade fixa. A adaptação da nuvem às exigências das empresas brasileiras é um negócio promissor. Na Mandic promoveu crescimento de 30% nas vendas de computação em nuvem nos últimos 12 meses.
Valor Econômico