Com serviços baseados na internet, o avanço da computação em nuvem requer boa infraestrutura de telecomunicações. Para dar conta da crescente digitalização dos negócios, é preciso ampliar a velocidade da banda larga fixa e móvel, melhorar a estabilidade e estender o alcance das redes às regiões mais distantes dos centros urbanos. “Por enquanto, a questão está controlada”, avalia Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.
Segundo ele, as operadoras de telecomunicações estão atentas à demanda por serviços de dados e investindo em infraestrutura para, elas próprias, se beneficiarem das novas receitas. Entre 2011 e 2014, segundo dados apurados pela Teleco, as operadoras investiram R$ 106,7 bilhões em redes fixas e móveis. Como resultado, em agosto, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) computou 25,2 milhões de acessos de banda larga fixa. Dos 281,5 milhões de telefones celulares em serviço no país, 57,55% estão ligados às redes de terceira geração (3G) e outros 5,21% se beneficiam de serviços 4G.
A velocidade média da internet brasileira tem aumentado. Na fixa, está em 3,6 megabits por segundo (Mbps); na móvel, em 1,8 Mbps. Apesar da melhora, a conectividade brasileira ainda é um entrave para uma boa experiência do usuário em serviços com base em internet. “A cobertura ainda é um problema”, destaca Sérgio Paulo Gallindo, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). O alcance e a qualidade das conexões, afirma, precisam melhorar para garantir a digitalização da economia.
Estudo elaborado pelo The Boston Consulting Group (BCG) aponta que são necessários investimentos de R$ 170 bilhões para a infraestrutura brasileira de telecomunicações alcançar o que eles chamam de padrão referência de serviço. O montante equipararia o Brasil aos mesmo nível de conectividade da Austrália, em densidade (número de acessos por grupo de cem habitantes) e velocidade. Para se ter uma ideia, no ano passado, a Austrália registrou densidade de banda larga de 26,2, enquanto no Brasil o índice ficou em 11,8.
De acordo com Tude, a demanda pela computação em nuvem cresce primeiro nos grandes centros urbanos, bem servidos de infraestrutura, o que minimiza a pressão sobre a conectividade em curto prazo. Além disso, o acesso aos sistemas e serviços é realizado, prioritariamente, dos escritórios que dispõem de comunicação rápida na internet.
A baixa velocidade do acesso móvel é compensada pela integração das redes wi-fi (que se alimentam da capacidade da rede fixa) aos telefones inteligentes. O atendimento à crescente comunicação entre máquinas – impulsionado pelo advento da internet das coisas – também está sob controle, na visão de Tude. “As máquinas exigem pouco da capacidade da rede para o envio de dados”, explica.
Apesar da infraestrutura ‘aguentar’ a demanda atual, as operadoras estão cientes da necessidade de novos investimentos. “A computação em nuvem demanda velocidade, cobertura, disponibilidade de rede e capilaridade”, confirma Surya Mendonça, vice-presidente da área de empresas da Telefônica/Vivo. Na operadora, o avanço dos serviços complexos de dados é um dos componentes das estratégias de investimento em infraestrutura. “A necessidade das empresas por mobilidade vai exigir muito das redes”, admite.
Acostumadas a lidar com serviços de ampla escala, as operadoras estão investindo em centros de dados para oferecer soluções de nuvem. No plano de negócios, agregam conectividade aos produtos de tecnologia da informação (TI). “A vantagem para o cliente é ter tudo contratado em um só fornecedor. A gestão fica mais fácil”, diz Mendonça. Para diversificar a oferta, a Telefônica/Vivo aposta em parcerias com empresas (já consolidadas) e iniciantes (startups) da área de TI, oferecendo soluções para empresas de todos os portes.
Elisabete Couto, diretora de serviços de TI e nuvem da Embratel Claro Empresas, lembra que as operadoras estão acostumadas a cobrar serviços de acordo com o uso, como exige o modelo de computação em nuvem. Além disso, conseguem se diferenciar com a conectividade. “O nosso centro de dados está ligado diretamente na fibra óptica que faz parte da estrutura principal da internet brasileira. Ou seja, a informação já sai de lá para o coração da rede”, explica.
Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/4268176/conectividade-ruim-ainda-e-obstaculo-para-usuarios
Valor Econômico