Segundo a consultora de educação para carreiras Sofia Esteves, as empresas historicamente priorizavam pessoas com facilidade de adaptação e criatividade para inovar. No novo cenário, a busca é pela valorização do indivíduo e sua proposta de vida. Isso acarreta uma mudança no processo de seleção das empresas.
“A gente precisa que o diploma seja o orgulho de ter aprendido e não apenas um papel para dizer ‘olha aqui’. As empresas cada vez mais vão valorizar o aprendizado com a parte comportamental, a atitude de cultura e valores. Por isso, o autoconhecimento passa a ser a base de tudo. Seja para escolher o curso que vamos fazer, seja para desenvolvermos as habilidades socioemocionais”, disse Sofia Esteves.
Neste novo contexto da entrada no mercado de trabalho, a função do governo é essencial para reaproximar pessoas e empresas. Durante o debate, a secretária do governo paulista Patricia Ellen enfatizou a importância da transformação tecnológica para encurtar este caminho. E, a pedido de Rua, destacou as ações em andamento.
A integração das pastas paulistas de desenvolvimento econômico, trabalho, ciência e tecnologia foi a primeira medida destacada pela secretária para a otimização da empregabilidade. “Passamos a fazer um trabalho de entender a demanda das empresas, suas necessidades de qualificação técnica. E, com base nessas necessidades, revimos nossos cursos e apoiamos os trabalhadores que estão buscando oportunidades. A tecnologia ajudou muito neste sentido”, destacou Ellen. O governo paulista, ao lado de parceiros como a própria IBM, mantém o programa Minha Chance, em que empresas divulgam suas vagas de trabalho e definem suas necessidades de qualificação. O Minha Chance revisa os cursos disponíveis e, com a curadoria das próprias empresas, abre espaço para que trabalhadores e estudantes se inscrevam nesses cursos e aumentem a chance de obter a vaga.
Em paralelo ao Minha Chance, Patricia Ellen destacou uma outra medida que dá suporte ao trabalhador no processo de preparo socioemocional. É o programa Trabalho em Equipe, antes denominado Time do Emprego, em que orientadores são graduados para apoiar as pessoas que muitas vezes “têm aquela barreira da vergonha, de não saber se posicionar numa entrevista”, destacou a secretária em sua participação no debate da IBM. A qualificação na formação de docentes também foi lembrada por ela.
Ellen também expôs números do recém criado Mutirão do Emprego, a plataforma 100% virtual para que estudantes e trabalhadores procurem via internet a vaga correta para o seu perfil. O mutirão abriu com mais de 12 mil vagas de empregos cadastradas e 33 empresas participantes. Segundo a secretária, cinco horas depois do lançamento já havia um total de 17 mil inscritos. “Com esse trabalho, qualificam-se as pessoas para essas vagas e se garante o preenchimento delas. A melhor maneira de lidar com isso é entender que cada emprego conta e usar a tecnologia para incluir as pessoas através da qualificação”, explicou.
Essa qualificação destacada no debate implica uma mudança radical de prioridades no incentivo aos cursos universitários, uma ruptura com valores de tempos passados e a criação de uma nova mentalidade.
Segundo relatou Fabio Rua, um estudo da Brasscom, a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, divulgado antes da pandemia de Covid-19, mostra que, se nada for feito para aumentar a procura por vagas disponíveis em TI (tecnologia da informação), em 2024 o mercado terá 420 mil postos de empregos sem condição de serem preenchidos.
Para atender às necessidades da economia digital, a IBM oferece o Open P-TECH, plataforma com conteúdos e microcertificações digitais gratuitos para equipar jovens e educadores em áreas como segurança, inteligência artificial e computação em nuvem. A Fundação Bradesco foi uma das primeiras parcerias do programa, oferecendo os cursos a milhares de estudantes no país através da Escola Virtual.
Para o debatedor Marco Santos, é preciso mudar a narrativa que existe na sociedade brasileira de que a tecnologia e a matemática são “bichos de sete cabeças”. “A matemática é um caminho para um emprego de alta renda, um caminho para o futuro do trabalho. É preciso incentivar principalmente as mulheres, que têm muito menos aderência nessa área”, relatou o presidente da GFT Technologies.
“A TI é hoje considerada uma ‘nova língua’, como o português. Ela está presente em tudo. É um elemento capaz de transformar o Brasil. Nosso país hoje tem uma máquina econômica e social orientada à formação de advogados e administradores. É preciso criar uma sensibilização de que o futuro do trabalho e da educação está embasado pela TI, independentemente da carreira e da área que o jovem escolher”, explica Santos.
Para ele, a pandemia se transformou no maior agente acelerador desse processo, com usuários e consumidores muito mais digitais. As grandes, médias e microempresas aceleraram sua transformação digital. “A ideia é duplicar em oito anos o mercado de tecnologia brasileiro, que hoje tem 1,5 milhão de profissionais. Para isso, é necessário criar um ‘ecossistema’, juntando empresas, institutos, entidades e programas de inclusão para atacar essa tarefa de inspirar meninos e meninas a entrarem em uma área que é o futuro do trabalho”, disse Santos.
Fonte: http://estudio.folha.uol.com.br/ibm/2020/10/1988897-debate-sobre-educacao-50-aponta-caminhos-para-empregabilidade.shtml