Pesquisa mapeará oportunidades para fomento à Internet das Coisas. Governo estima mercado de R$ 200 bilhões até 2022
Poderia ser apenas mais um episódio de desenho animado da dupla Hanna-Barbera, mas dentro de pouco tempo casas conectadas, iluminação pública inteligente e automóveis autônomos serão tão comuns no Brasil como em um capítulo de Os Jetsons. Esse é o ambiente de inovação buscado com o Plano Nacional de Internet das Coisas, do governo federal, previsto para março.
Plano Nacional de IoT abrigará conjunto de propostas para o incentivo de
inovação e tecnologia em diversos setores da economia brasileira
O conjunto de propostas para incentivo à utilização de novas tecnologias nos próximos cinco anos (2017-2022) tem objetivo de mobilizar poder público, empresas e comunidade acadêmica para criar soluções baseadas em Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Considerado um dos principais mercados para os próximos anos, o segmento abriga o ecossistema de aparelhos conectados via internet, bem como a troca de informação e inteligência entre eles.
Mas essa revolução tecnológica vai além dos já conhecidos computadores, tablets e smartphones, atingindo automóveis, eletrodomésticos e até mesmo acessórios, roupas e calçados. Segundo o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), estima-se que já existam mais de 15 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, e a expectativa é que, em 2025, haja 35 bilhões, número equivalente a cinco vezes a população mundial.
Com objetivo de entender o contexto brasileiro nesse cenário, o governo divulgará os primeiros dados do estudo técnico sobre o cenário de IoT no país durante o lançamento do projeto. O levantamento está sendo produzido para embasar o plano de IoT e vai custar R$ 17,4 milhões. A iniciativa será financiada pelo MCTIC e pelo BNDES (Banco Nacional para o Desenvolvimento), por meio do FEP (Fundo de Estruturação de Projetos).
Em dezembro passado, foi anunciado o consórcio responsável por esse mapeamento. Após chamada pública e avaliação de 30 propostas, o governo elegeu o grupo formado pela consultoria Mckinsey, pelo CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) e pelo escritório Pereira Neto/Macedo Advogados para liderar o estudo.
Segundo o MCTIC, a implantação de soluções baseadas em conectividade vai gerar economia de recursos, aumento de eficiência e, consequentemente, aumento do faturamento de diversos setores produtivos. Espera-se no país um mercado de R$ 200 bilhões até 2022.
Claudio Leal, superintendente da área de indústria e serviços do BNDES, ressalta que um dos objetivos do estudo é justamente identificar oportunidades e barreiras tecnológicas e discutir possíveis ações de estímulo ao desenvolvimento. “IoT tem um conjunto de questões horizontais que permeiam todos os setores da indústria, como privacidade, segurança da informação, conectividade etc. O estudo vai buscar como resolver ou potenciar resultados em cima dessas horizontais e priorizar áreas de aplicação em que o Brasil possa ter maior protagonismo”, explica.
A preocupação em não ficar para trás faz sentido. O Brasil aparece no Relatório do Índice Global de Inovação 2015 na posição 70, entre 141 países. O caminho para evoluir é longo, mas um passo importante foi dado em 2014, com a criação da Câmara de IoT, que tem como objetivos subsidiar a formulação de políticas públicas, promover e acompanhar o desenvolvimento de soluções de comunicação máquina-máquina (M2M) e de IoT para o mercado brasileiro.
Com o lançamento do Plano Nacional de IoT, a ideia é estruturar em um só projeto todas essas articulações, canalizando em médio e longo prazo recursos e esforços em áreas potencialmente relevantes. “IoT já está ocorrendo, mas o que a gente observa é que não existe planejamento estratégico nessa linha. Com amadurecimento de verticais de maior potencial, vamos aprimorar as linhas de apoio”, ressalta Ricardo Rivera, gerente do departamento de tecnologia da informação e comunicação do BNDES.
Plano coletivo
A participação da sociedade como um todo é uma das principais estratégias para o desenvolvimento do plano. Estão previstas três consultas públicas para que interessados possam contribuir propondo ideias. A primeira está disponível no site http://www.participa.br/cpiot até 5 de fevereiro, e apresenta, em linhas gerais, as propostas e objetivos do estudo base para o plano, e até o momento já recebeu mais de mil comentários e sugestões.
Serão mapeados, por exemplo, o cenário de fomento à pesquisa e desenvolvimento relacionados à comunicação M2M e IoT; a capacidade técnica e as lacunas na mão de obra de profissionais que atuam nesse setor; o contexto das indústrias; e as competências para utilização de novas tecnologias, redes e transporte de dados, entre outros temas.
Entre as possíveis áreas de investimento, os segmentos de mobilidade, sistemas financeiros e urbanismo são potencialmente relevantes por serem pioneiros na utilização de soluções baseadas em IoT. Segundo Gerson Rolim, sócio-diretor da Vecto Mobile e diretor do eInstituto (Instituto Latino Americano de Comércio Eletrônico), uma das principais vantagens de as empresas terem seus sistemas conectados é a obtenção de inteligência de dados.
“O setor financeiro saiu na frente nesse sentido e tem colhido benefícios importantes com o business intelligence. Por meio de relatórios gerados, os bancos encontram, por exemplo, bolsões de economia, endereços de cidades potencialmente interessantes para o varejo, qual região se vende melhor determinado produto etc.”, fala.
Já no segmento de mobilidade, o especialista destaca as oportunidades de parcerias entre companhias de seguro e fabricantes, com objetivo de entender melhor o perfil do motorista e oferecer experiências mais adequadas. “A conectividade em automóveis possibilita que o fabricante tenha contato mais próximo com sua rede conveniada, interagindo e informando o condutor quanto ao posto mais próximo, data para recalibrar pneus, medir emissão de gás do motor e proativamente informar o cliente”, afirma.
A IoT ainda tem ambiente fértil no segmento de rastreamento de cargas, monitoramento de quadros clínicos no setor de saúde e soluções para políticas públicas. “Apesar de ser um plano para médio e longo prazo, é um projeto vivo, que vai ser alterado no decorrer do tempo, de acordo com a atualização tecnológica. O Brasil não tem tradição de se planejar para as coisas, então, essa preocupação é uma excelente notícia. Temos uma sinalização de estarmos no caminho certo”, finaliza Rolim.
DANÚBIA PARAIZO, PROPMARK