O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, defendeu nesta quinta-feira (9) a criação de um programa nacional de apoio ao empreendedorismo de base tecnológica. A ideia, apresentada no workshop promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, é articular uma série de iniciativas, hoje isoladas, no âmbito do governo federal.
“Quando nós temos a oportunidade de articulação, evitamos, em primeiro lugar, a superposição de esforços. Isso é muito importante, porque implica também em melhor eficiência na utilização dos recursos públicos. Ao integrar diversos esforços em um mesmo projeto de governo, somamos orçamento e trabalho, para estabelecer uma política efetivamente de Estado”, disse o ministro.
De acordo com Kassab, todo o governo federal está convencido de que a saída de uma crise econômica requer investimento em pesquisa e inovação e aposta no empreendedorismo. “O atual mandato tem menos de dois anos pela frente. É evidente que nós temos que saber priorizar, planejar e deixar um legado”, disse. “Espero que esse fórum, com apoio da Presidência da República e da área econômica, possa escolher os melhores caminhos, estruturar equipes e trabalhar de maneira integrada, para que os resultados apareçam no curto prazo, porque o objetivo é apresentar respostas rápidas de uma maneira bastante expressiva. E o resto deixar como legado.”
Na visão do secretário Alvaro Prata, um programa de apoio ao empreendedorismo tecnológico deve ser construído em parceria com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) – “de onde veio a ideia original para que o MCTIC se movimentasse”.
Segundo Prata, o workshop foi importante para a absorção de experiências e propostas. “Precisamos estar abertos a novas ideias e, sobretudo, para a realidade de que o Brasil tem que melhorar no aspecto de desenvolvimento tecnológico e inovação, com mudanças profundas, estruturais”, apontou. “Somos únicos nisso: um país que tem um conhecimento científico virtuoso e não consegue usá-lo amplamente para benefício econômico e social e geração de riqueza.”
O secretário avalia que o Brasil precisa dar mais ênfase à formação de seus empreendedores. “Temos que encontrar e estimular pessoas que gerem negócios rentáveis a partir de ideias inovadoras e, com isso, estabelecer uma cultura diferente da que está aí, ao nos apoiar no desenvolvimento tecnológico para mudar e revolucionar a realidade em que vivemos.”
Cenário
O presidente do CNPq, Mario Neto Borges, citou os resultados da última Pesquisa de Inovação (Pintec), divulgada na última quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Ela mostrou, na verdade, que pouco avanço houve na indústria brasileira nos últimos anos. Portanto, os desdobramentos desse workshop são fundamentais para que consigamos obter esse crescimento tão necessário ao país na área de inovação.”
Para o diretor de Inovação da Finep, Márcio Girão, embora haja exceções em setores como agropecuária e farmacologia, os dados da Pintec reforçam que “a ciência aplicada brasileira não vai bem”, porque converte pouco conhecimento em benefícios sociais. “A gente fica repetindo mantras, que, do ponto de vista da ciência, o empresário brasileiro não é um sujeito inovador e não se preocupa com pesquisa e desenvolvimento; e na percepção do empresário, que os cientistas gostam mais é de fazer papers. Os dois estão errados. É um problema cultural mesmo, ou seja, a ciência precisa entender que também é papel dela fazer a transformação de conhecimento em tecnologia. Da mesma forma, o empresariado tem que olhar para a ciência como um agente transformador do seu negócio, por meio da inovação tecnológica, principalmente.”
Girão informou que a Finep estuda maneiras de ajudar jovens empreendedores a enfrentar o “vale da morte”, período inicial de dificuldades ao qual boa parte dos negócios não resiste. “Uma empresa comum morre após cinco anos de existência. Apenas 10% superam essa barreira. Quando você observa uma empresa de base tecnológica na Alemanha, 60% sobrevivem. Quando você passa ao MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos], 80% seguem vivas após os cinco anos. Ou seja, a base tecnológica é fundamental para ultrapassar o vale da morte das empresas empreendedoras.”
De acordo com o diretor, a Finep elabora um projeto que vai ao encontro dessa preocupação. “Como a gente pode descobrir empreendedores? A gente tem que investir pesadamente nas pessoas que estão próximas ao vale da morte, conscientes de que deve chegar ao outro lado apenas uma parte delas. Nós temos que criar essa massa crítica”, defendeu. “A gente financia desde grandes projetos, de R$ 300 milhões, a pequenas empresas, que já faturam um certo valor. Mas agora queremos atacar também aquele segmento que está começando.”
Já o presidente do Confap, Sergio Gargioni, destacou a importância dos investimentos em tecnologia para a retomada do crescimento econômico. “A gente fala muito da economia, que ela não reage. Mas temos aí um potencial enorme, que é o conhecimento. O mundo todo está nessa direção. Se você olhar onde estão os investimentos, estão na tecnologia.”
Apresentaram-se no workshop representantes das fundações de amparo à pesquisa do Espírito Santo (Fapes), de Minas Gerais (Fapemig), de Santa Catarina (Fapesc) e de São Paulo (Fapesp), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), além do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
MCTIC

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