Com o objetivo de fornecer possibilidades para que mulheres se insiram em realidades ainda voltadas majoritariamente aos homens, como é o caso de cursos, faculdades e carreiras que envolvam ciências exatas e tecnologia,  o Fundo ELAS, em parceria com o Instituto UnibancoFundação Carlos Chagas e a ONU Mulheres, lança a segunda edição do edital Gestão para Equidade: Elas nas Exatas.

Segundo Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, unir organizações diferentes em prol da mesma causa contribui com a multiplicidade de olhares sobre a questão. “São diversos olhares e atores preocupados com o mesmo tema, mas a partir de repertórios diferentes. Com isso, cria-se um campo de compromisso, compartilhado por esses vários atores, o que aumenta a probabilidade de incidir de forma efetiva para fazer a mudança social necessária”, defende.

A primeira chamada de projetos, realizada em 2015, recebeu mais de 170 propostas. Dessas, foram selecionadas 10 iniciativas, localizadas em Florianópolis (SC); Itacoatiara (AM); São Paulo (SP); Rio de Janeiro (RJ); São João Del-Rei (MG); Salvador (BA); Cachoeira (BA); Iracema (CE); Campina Grande (PB); e Natal (RN). Ao todo, o desenvolvimento dos projetos atingiu mais de mil jovens do Ensino Médio. Nessa segunda edição, a ideia é ampliar a iniciativa e selecionar mais 10 ações que aprofundem a discussão sobre a equidade de gênero.

Segundo um levantamento realizado pela Folha de S.Paulo em 2016, a participação de mulheres nos cursos de ciências exatas não chega a um em cada cinco estudantes. Dos calouros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), 18% são mulheres. Esses números precisam de grandes avanços, uma vez que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 e 5 visam, respectivamente, assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos e a busca pela igualdade de gênero.

KK Verdade, coordenadora executiva do Fundo ELAS, defende que existe uma ideia de que as meninas estudam mais tempo que os meninos e, logo, são melhores na questão educacional, não havendo desigualdade nesse campo. “Na verdade, existem desigualdades sim, porque existem carreiras que são de meninas, outras que são de meninos. Aquelas que os salários são maiores são carreiras de meninos, relacionadas às exatas. No primeiro edital, nós tínhamos o seguinte dado: as meninas entravam no ensino médio com a mesma nota dos meninos em exatas, mas saiam com notas inferiores”, argumenta.

A ideia do edital, portanto, é apoiar iniciativas diversas que contribuam para inserir mulheres em áreas onde os homens são maioria. Começar a mudar o pensamento, ainda no ensino médio, de que ciências exatas são carreiras voltadas para eles é de extrema importância. KK ressalta que é possível impactar positivamente a escolha das alunas por um curso superior em ciências e tecnologia se elas tiverem acesso a cursos, a discussões sobre meninas nas exatas e a conversas com outras mulheres que estão fazendo carreira nessas áreas. Iniciativas que envolvem essas e outras ações a partir da promoção da equidade de gênero podem realizar a inscrição de projetos até o dia 28 de novembro.

Ricardo Henriques, por sua vez, defende que além de estimular as escolhas profissionais das jovens, o edital também tem impacto sobre o plano de ensino e aprendizagem das escolas. “É fundamental que as escolhas individuais das meninas sejam ativas em direção ao campo das ciências. Mas, o edital também visa a criação de um espaço de ensino e aprendizagem onde os estigmas tradicionais sejam não só descortinados como criticados, e que as escolhas [das meninas] se deem de forma soberana de acordo com as preferências não enviesadas que tradicionalmente a escola produz”, ressalta.

Critérios de participação

Podem participar do edital qualquer organização que se dedique à promoção da educação, à defesa dos direitos das mulheres e/ou aos direitos humanos; associações legalmente constituídas representativas de escolas públicas (como associações de pais e mestres, caixa escolar, etc.); organizações legalmente constituídas de mulheres ou mistas ou grupos e coletivos de mulheres ou mistos. Entretanto, é necessário que os projetos sejam realizados em parceria com uma escola pública de Ensino Médio, com envolvimento da gestão escolar e sejam coordenados por uma ou mais mulheres.

Essa participação da comunidade é um ponto de destaque do edital. Segundo KK, o simples fato de não haver uma avaliação crítica de como que as meninas estão sendo tratadas nessas áreas ou se há algum tipo de estímulo a elas, já demonstra que a escola está contribuindo com a desigualdade de gênero. O envolvimento da gestão escolar, portanto, serve como uma conscientização. “Outro ponto é o envolvimento de familiares. Muitas meninas contaram pra gente ao longo do ano passado que os próprios pais e mães não incentivam elas a entrarem nas exatas, dizendo que ‘isso não é carreira de menina’ e que ‘elas vão ter muita dificuldade’. A ideia do edital é envolver a gestão escolar para pensar criticamente, e ver como que ela pode investir em um melhoramento e envolver as alunas e seus familiares, para que elas tenham um apoio na família, ao invés de ter um obstáculo a mais”, ressalta KK.

Serão considerados projetos desenvolvidos de acordo com três linhas de apoio. Em “Boas práticas escolares e parcerias”, podem ser inscritas iniciativas que considerem a escola como um espaço para a construção de novas possibilidades com relação à equidade de gênero e de estímulo às meninas na área de tecnologias, ciências exatas e naturais; ações de parceria da escola (com universidades, empresas de tecnologia, laboratórios, centros de pesquisa, etc) que promovam inserção das alunas em áreas de exatas e tecnologias, entre outras.

Já em “Capacitação e formação”, alguns exemplos de iniciativas são: elaboração de aulas complementares para alunas com foco em tecnologia e ciências exatas e naturais; fornecimento de cursos para meninas de desenvolvimento de games, jogos, aplicativos educativos; oferta de formação para professoras e professores, sobretudo das áreas de ciências exatas, visando à construção de uma prática pedagógica atenta às desigualdades de gênero, entre outras.

Por fim, em “Informação e comunicação”, serão consideradas ações que estimulem o diálogo e aumentem o entendimento sobre o tema; que desenvolvam campanhas educativas ou informativas que estimulem a participação das meninas nas ciências exatas, entre outras.

KK Verdade defende ainda que o edital pretende estimular a criatividade e iniciativa para superar a reprodução da desigualdade de gênero na escola. “Na minha opinião, o que faltam são boas ideias; nós precisamos de bons exemplos. Então, acredito que o poder do edital está justamente na diversidade dos projetos inscritos. Muitas vezes, uma boa solução que está no sul do país não vai funcionar lá no norte. Por isso é importante incentivar ideias diferentes, pois dessa forma podemos encontrar iniciativas muito boas para o norte, para o sul e para o Brasil. Nós queremos fortalecer as soluções”.

A escolha dos projetos ficará a cargo do Comitê de Seleção do Fundo ELAS juntamente com a participação de representantes dos parceiros. Alguns dos critérios que serão levados em consideração para avaliar os projetos são: pertinência em relação à proposta do edital; adequação da metodologia e aplicação dos recursos; viabilidade técnica; amplitude dos efeitos na comunidade escolar; inovação; ações comunicativas; impacto social local; promoção de diálogos com a sociedade; e potencial de replicabilidade.

Ao todo, estão reservados R$ 350 mil para apoiar financeiramente os projetos. Cada um poderá receber até R$ 35 mil. O repasse será realizado em duas parcelas, a partir da apresentação de relatório de atividades do projeto e aplicação dos recursos. O prazo de execução para as propostas selecionadas é de até 10 meses, de fevereiro a novembro de 2018.

Além do aporte financeiro, as iniciativas selecionadas também receberão acompanhamento técnico do Fundo ELAS via telefone ou presencialmente, no Encontro de Fortalecimento. Já a Fundação Carlos Chagas ficará responsável por coordenar as duas fases da avaliação de processos e resultados, que deverá ser feita durante o desenvolvimento das propostas. Com a finalidade de aproximar-se das ações desenvolvidas, o Instituto Unibanco poderá realizar visitas agendadas aos locais onde os projetos acontecem.

Inscrições

Organizações interessadas em participar da seleção devem preencher o formulário de solicitação de apoio (link disponível no regulamento) e enviá-lo via correio para o endereço do Fundo ELAS até o dia 28 de novembro. Junto com o formulário, deverá ser enviada uma carta de parceria que ateste o compromisso entre a proponente e a escola pública.

A lista de projetos selecionados será divulgada no dia 22 de janeiro de 2018 no site do Fundo ELAS, da Fundação Carlos Chagas, da ONU Mulheres e do Instituto Unibanco.

Informações completas sobre o funcionamento do edital estão disponíveis no regulamento (acesse aqui). Eventuais dúvidas podem ser esclarecidas diretamente com Rosane Barbosa, assessora administrativa do Fundo ELAS pelo email: elas@fundosocialelas.org

Insira seu nome e e-mail para visualização dos downloads