Por Matheus Mans
Ariadne Hostins era designer gráfica e não tinha contato algum com a tecnologia até conhecer a Laboratória, iniciativa que busca inserir mulheres no mercado de programação. Ela pesquisou um pouco, consultou o material e se encantou. Acabou ingressando na primeira turma do curso, há um ano, e hoje é engenheira de software na Escale, startup que escala negócios como Nubank. “Descobri que era isso que queria fazer da minha vida”, diz.
Ela faz parte de uma onda de alunas que estão sendo formadas por iniciativas particulares, com viés social, que estão se espalhando pelo Brasil para democratizar o acesso ao mercado de programação e desenvolvimento. Afinal, hoje, apenas 20% dos profissionais de tecnologia são mulheres, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Número bem abaixo da realidade brasileira.
“Há um desequilíbrio social que causa a exclusão de mulheres na sociedade. Ao mesmo tempo, para 2025, estima-se que haverá mais de 1,2 milhão de empregos para programadores e apenas metade dessa demanda estará preenchida”, afirma Regina Acher, cofundadora da Laboratória no Brasil. “[É preciso] inserir mais mulheres no mercado de tecnologia por meio de uma capacitação com desenvolvimento técnico e socioemocional”.
A Laboratória, de Acher, tem presença em grande parte da América Latina com um curso que ensina as principais vertentes da programação em 6 meses e conta com parceiros globais como Google e Microsoft. Além disso, no Brasil, já formou 100 alunas ao longo de um ano e meio. Dessas, cerca de 94% estão trabalhando na área de tecnologia em grandes empresas.
“O mercado de tecnologia é predominantemente masculino e, por isso, iniciativas como a Laboratória são importantes. As equipes que trabalham com tech devem ser diversas, visto que a sociedade é diversa”, afirma Acher, da Laboratória. “Não faz sentido um time composto apenas por homens trabalhar em um app focado em mulheres. Certamente o resultado será melhor se o trabalho for feito por pessoas que tenham mindset distintos”.
Inspiração
Outra iniciativa que se destaca no cenário nacional é a PrograMaria, startup que quer levar ensinamentos de programação para mulheres em todo o Brasil. A empresa surgiu, em 2015, como um clube de programação para mulheres. No entanto, por conta do cenário, a Programaria acabou evoluindo. “É muito difícil se imaginar fazendo algo que não tem mais ninguém como você fazendo”, diz Iana Chan, cofundadora. “Queremos mudar o cenário”.
Hoje, a Programaria já ofereceu 16 oficinas e 4 cursos completos sobre programação. Além disso, acaba de promover o PrograMaria Summit, evento em São Paulo para unir mulheres do setor de tecnologia com grandes empresas atuantes no mercado brasileiro, como Vivo, Nubank e Oracle. Segundo Iana, além da necessidade natural de se levar mulheres para o mercado de tecnologia, há a atenção às particularidades do desenvolvimento de softwares.
“Aplicativos, tecnologias e ferramentas possuem o viés de quem os cria. E, geralmente, são homens. Já vi aplicativos sobre saúde sem qualquer atenção à saúde da mulher, como ciclo menstrual. Isso mostra como há falta de cuidado e diversidade”, afirma a cofundadora da PrograMaria, sobre outros desafios que enfrenta no setor. “Tecnologia é uma ferramenta para resolver problemas de todos. Quantos problemas as mulheres poderiam resolver?”.
Agora, depois de se concretizar como uma startup com cursos presenciais, a PrograMaria quer olhar para outros setores da sociedade. E quer chegar onde cursos de tecnologia não chegam. “Nosso próximo passo é lançar um curso de programação híbrido, sendo parte presencial e parte online. Queremos alcançar o maior número de pessoas, com qualidade”, diz. “E isso ajuda todo mundo. Afinal, a diversidade traz um ambiente mais inovador”.